História da Serra do Cipó
Descubra a história da Serra do Cipó e encante-se com este paraíso.
A história da Serra do Cipó remonta às comunidades primitivas que acreditavam no poder sobrenatural ou mágico dos desenhos e por isso deixaram seu registro, através de pinturas rupestres. Para provar a existência dessas marcas basta se adentrar dentro das cavernas e grutas presentes na região, que possuem um acervo rico de figuras entalhadas.
Por volta do século XVIII, bandeirantes, tropeiros e escravos atravessavam a serra a procura de ouro e pedras preciosas. Por ali, transportavam mercadorias e davam sustento a base da mão-de-obra colonial. Pode-se dizer que hoje o acesso facilitado às cidades de Diamantina, Serro e Ouro Preto se deve a boa localização na porção sul da Serra do Espinhaço.
Da escravidão resta ainda a trilha percorrida pelos escravos que conduz ao topo da cachoeira do Véu da Noiva.
Passada a euforia inicial da busca do ouro a população da Serra do Cipó e do entorno dedicou-se à agricultura de subsistência, à criação de gado, à produção de cachaça (importante produto regional até hoje), dentre outros produtos.
Entre as manifestações culturais destacavam-se a Folia de Reis, o batuque, os ‘paulistas’, o reisado, o congado e o Candombe. Candombe, misto de canto, declamação cantada e percussão de tambores, praticada por descendentes de escravos, era até poucas dezenas de anos cantado em língua africana, hoje esquecida.
Na culinária tradicional eram utilizados especialmente: ovo de galinha, carne de porco, carne de frango, milho, ora-pro-nobis, quiabo, andu (ou guandu), jiló, feijão-roxinho, urucum, queijo, pimentas e o arroz-vermelho.
Entre as plantas aromáticas se destacava o ‘quitoco’, planta ruderal nativa, tempero excelente para pratos salgados, especialmente a carne de porco. Carne de caça variada era constante nas mesas, o que somente foi abandonado a partir do incremento da fiscalização federal, na década de 1980.
A Serra do Cipó na Pré-História
A região da Serra do Cipó foi ocupada por populações pré-colombianas. As populações mais antigas a ocupar a região, entre 8.500 e 12.000 atrás, eram negróides, coletores e caçadores, com agricultura incipiente, que deixaram sítios com os enterramentos ritualizados mais antigos do mundo (Grande Abrigo de Santana do Riacho; Prous, 1992/1993).
Esses moradores caracterizavam-se por baixa fecundidade, mortalidade elevada de crianças e de adolescentes, mortalidade precoce dos adultos e expectativa de vida muito baixa, com poucos indivíduos chegando aos quarenta anos (Souza, 1992/1993b).
No interior do Parque Nacional a maioria das pinturas rupestres representa cervídeos (veados), geralmente nas cores ocre ou vermelho e, mais raramente, amarelo, laranja, branco e preto; esses padrões, no entanto, são muito variáveis na região e na região de Matozinhos, havendo enorme diversidade de registros rupestres, tanto de pinturas, quanto de gravuras (incisões) (Prous, Baeta e Rubbioli, 2003).
Povos Indígenas na Serra do Cipó
Os indígenas (ou ‘mongolóides’) chegam à Serra do Cipó em uma segunda etapa da colonização da região. A ausência de restos esqueletais dos indígenas na região impede o estudo mais detalhado dessas populações, mas foram encontrados artefatos por eles produzidos, como objetos e fragmentos de vasos (nos chamados ‘sítios cerâmicos’) e machados.
Não se sabe se os contatos entre o ‘povo de Luzia’ (primeios habitantes da região) e os indígenas foram pacíficos, mas confrontos violentos podem ter sido prejudiciais a esses primeiros moradores. Essa hipótese pode explicar, também, o súbito desaparecimento do homem de Neanderthal na Eurásia, há cerca de 27.000 anos, incapaz de fazer frente ao Homo sapiens, muito mais belicoso e adaptável.
A demografia desfavorável (crescimento populacional reduzido ou negativo), a ênfase econômica na caça e na coleta, a alta incidência de doenças e de acidentes (Souza, 1992/1993a) e a belicosidade reduzida podem ser causas que contribuíram, somadas, para a extinção dos moradores primitivos da região.
Período Colonial A região da Serra do Cipó foi palmilhada no século XVII por sertanistas paulistas. As primeiras fazendas foram estabelecidas a oeste da serra ainda no século XVIII. A Fazenda do Cipó, a 3 km da atual sede do ParNa, já existia no início do século XIX. A Estrada Real, que ligava o Rio de Janeiro a Diamantina, foi aberta no início do século XVIII.
Ao longo dela cresceram cedo as localidades de Itabira, Itambé do Mato Dentro e Morro de Gaspar Soares (hoje Morro do Pilar, a leste da serra) e Conceição do Mato Dentro ao norte, ligadas à exploração do ouro, que nunca foi abundante na região. A oeste, a localidade de Riacho Fundo (hoje Santana do Riacho) já existia em fins do século XVIII.
As localidades próximas de Taquaraçu de Minas e Jaboticatubas datam do século XVIII. Diversas trilhas e caminhos antigos cruzavam a serra ligando essas localidades a Ouro Preto, Santa Luzia, Sete Lagoas e Itabira.
A população da Serra do Cipó e do entorno, passada a euforia inicial da busca do ouro, no século XVIII, dedicou-se à agricultura de subsistência, à criação extensiva de gado vacum e equino (especialmente jumentos e mulas) e à produção de cachaça (importante produto regional até hoje), à criação de porcos e extração de azeite combustível para iluminação e azeite édulo para culinária (de mamona e de macaúba – ‘coqueiro’).
Outros produtos regionais eram o milho, o arroz (no século XX), o feijão e a madeira (especialmente de candeia, aroeira e monjolo). Os campos naturais do alto da Serra do Cipó, por serem relativamente úmidos, foram muito utilizados como pastagens nas estações secas, apesar de pouco produtivos.
Viajantes e Naturalistas O botânico Auguste de Saint-Hilaire atravessou em 1817 (Saint-Hilaire, 1974 e 1975) a Serra do Cipó, então Serra da Lapa, nos atuais municípios de Congonhas do Norte, Conceição do Mato Dentro e Morro do Pilar, tendo coletado materiais botânicos. Em 1818 o botânico Martius e o zoólogo Spix passaram também por Morro de Gaspar Soares, como ainda se chamava Morro do Pilar.
Desconhecemos se coletaram materiais científicos na Serra do Cipó. Em 1820 o botânico austríaco Johann Emanuel Pohl passou por Morro de Gaspar Soares, onde pode ter coletado. A primeira publicação científica que menciona resultados de coletas na Serra do Cipó parece ser o livro ‘Velhas-Flodens Fiske et bidrag til Brasiliens ichthyologi’, do zoólogo dinamarquês Christian Frederik Lütgen, publicado em 1875 em Copenhagen.
Esse ictiologista estudou peixes coletados no Rio Cipó, pouco abaixo do atual Parque Nacional. A Serra do Cipó tem sido objeto de levantamentos científicos sistemáticos desde o último quartel do século XIX (W. Schwake, Alvaro Astolpho da Silveira). O botânico, geólogo e polígrafo mineiro Alvaro Astolpho da Silveira publicou em 1928 e 1931 na Imprensa Official de Minas Gerais os dois volumes da sua obra Floralia montium, as primeiras monografias científicas focadas na Serra do Cipó.
Outros trabalhos importantes e pioneiros foram: ‘Brasilien und seine Säulenkakteen’, do botânico alemão Erich Werdermann (1933); ‘Excursão à Serra do Cipó e a Barreiro, no Estado de Minas Geraes’, de Alexandre Carlos Brade (1935); ‘Resultados de excursões na Serra do Cipó no Estado de Minas Gerais’, de Henrique Lahmeyer Mello Barreto (1935); ‘Orchidaceae novae brasilienses I’, de A. C. Brade e P. Campos Porto (1935); ‘Melastomataceae novae II’, de A. C. Brade (1938).
Nesses trabalhos foram descritas muitas espécies de plantas endêmicas da Serra do Cipó. Da década de 1930 à década de 1980 as pesquisas científicas com materiais coletados na Serra do Cipó se multiplicaram.
Ao todo, já foram publicados cerca de 1.100 trabalhos científicos sobre a Serra do Cipó e sua biota, entre livros, capítulos de livros, livretos, folhetos e artigos de periódicos (revistas científicas). As pesquisas científicas são incentivadas e apoiadas pelos técnicos do Parque Nacional da Serra do Cipó.
Os pesquisadores podem utilizar os alojamentos e abrigos de montanha do Parque Nacional, utilizar animais de montaria da unidade, laboratório, computadores e guiagem por funcionários. Fonte: Celso do Lago Paiva